BLADE RUNNER 2049 | REVIEW / CRÍTICA (SEM SPOILERS)

Blade Runner 2049 chegou com uma responsabilidade praticamente insustentável nas suas costas: Ser a sequência de um dos filmes mais importantes de toda a história do cinema E aí, como será que ele se saiu? É o que a gente vai ver agora mesmo, sem spoilers, então se liga aí! Oi, eu sou Gustavo Cunha e o primeiro Blade Runner, dirigido por Ridley Scott, foi lançado em 25 de Junho de 1982 e, na época, foi considerado apenas razoável

Alguns críticos gostaram e outros simplesmente odiaram Ele teve um desempenho igualmente razoável nas bilheterias daquele ano Porém, em muito pouco tempo, o filme passou a ser visto e revisto, admirado e analisado, e se transformou em um clássico cult, um obra de arte inspirada no livro de Phillip K Dick Uma mistura de film noir e ficção científica, que mostrava um futuro ao mesmo tempo brilhante e decadente, distópico e sem esperança, e ainda assim, um filme simplesmente lindo

Uma das raras vezes em que o filme se saiu muito melhor do que o livro Blade Runner falava sobre questões filosóficas, como a transitoriedade da vida e mostrou como o próprio conceito de humanidade pode ser fluido, nebuloso, impreciso As classes mais favorecidas já tinham deixado a Terra e por aqui sobraram apenas os indesejáveis, os pobres, tentando sobreviver em um planeta doente e caótico Antes de qualquer coisa, é preciso que se dê um aviso de utilidade pública Apesar do que possa ter saído como marketing desse filme, Blade Runner 2049 não é um filme de ação

Esse é um filme extremamente contemplativo e lento, assim como o filme anterior do Dennis Villeneuve, A Chegada, que eu simplesmente adorei Então, se você está procurando um filme de ação, esse não é o filme pra você Ele tem alguns momentos de ação, mas são muito poucos, apesar de serem muito bem colocados e muito bem dirigidos Visualmente, aliás, esse filme é espetacular Os efeitos especiais são extremamente bem feitos, extremamente realistas e, em alguns momentos impressionantes, e a construção desse mundo radioativo e desolado é simplesmente fantástica

Os cenários, os veículos, os figurinos, cara é o mais perto que se pode chegar da perfeição A Los Angeles futurista e decadente do primeiro filme aparece novamente aqui, ainda mais desolada, mais opressiva, mais sombria, mais "artificialmente iluminada" A impressão que você tem é que o sol e o calor simplesmente se cansaram de aparecer e se mudaram pra um lugar mais agradável O filme conta a história de um novo Blade Runner, vivido pelo Ryan Gosling, que, 30 anos depois dos eventos do primeiro filme, segue o legado desses policiais especiais de Los Angeles, acabando com os Replicantes, formas de vida sintéticas, criadas pra trabalhar nas colônias da Terra no espaço, que se rebelaram e agora vivem misturados à população do nosso planeta Só que um segredo terrível o suficiente pra implodir o sistema social dessa Terra decadente subitamente se revela, e o nosso novo Blade Runner vai ter que decidir o que fazer com ele, enquanto tenta solucionar um mistério e ainda permanecer vivo

A boa notícia? Bom, esse filme é dirigido pelo Dennis Villeneuve, que fez o excelente A Chegada, talvez a única pessoa viva capaz de se mostrar à altura de um desafio como esse E, cara, ele se mostra merecedor dessa confiança, porque em nenhum momento ele se escora no Harrison Ford pra segurar o filme pra ele Em nenhum momento ele faz uso de grandes referências ao filme anterior, o que seria um caminho definitivamente mais seguro, mais confortável pra essa sequência Esse é um diretor que vai completamente na contramão de tudo o que Hollywood vem despejando há tempos no nosso colo, ele não se importa em assumir riscos e tá aqui pra contar a história dele, do jeito dele E é isso que ele faz

Se tem uma coisa que se pode dizer sobre Blade Runner 2049 é que esse é um filme que se recusa a ficar na sombra do filme anterior E isso é ótimo A má notícia? A má notícia é que essa é uma batalha perdida Isso é um fato Uma sequência filmada nos dias de hoje jamais poderia sequer fazer sombra ao filme original, primeiro pelo frescor e pela inovação visual e narrativa do filme de 1982, que misturava o cinema noir da década de 40 com ficção científica e art deco

Em segundo lugar, porque o primeiro filme teve trinta e cinco anos pra se estabelecer como um clássico cult, o filme mais elegante da história da ficção científica Ele influenciou muitos dos filmes que vieram depois dele E não apenas os filmes de ficção científica Como se compete com esse legado? Não se compete Porque seria injusto com esse novo filme se a gente fizer isso

Dito isso, tendo estabelecido que é injusto analisar esse filme à sombra do original, como é que ele se sai sozinho? Como um filme independente, com começo, meio e fim? A começar pelo roteiro, esse é um filme que tem algumas viradas bem interessantes, sendo que a primeira delas já se dá nos primeiros dez minutos, e simplesmente muda completamente a forma como você assiste à história O que já demonstra que esse é um filme que não se agarra a nenhuma fórmula pré-estabelecida A trilha sonora desse filme é um caso à parte Ela é muito enxuta, o que é uma marca do Denis Villeneuve, e aparece apenas em momentos muito pontuais Em vários momentos você não consegue distinguir se aquilo é uma peça musical, ou apenas um efeito sonoro, o barulho do maquinário de Los Angeles

E em muitos momentos, essa trilha sonora aparece pra evidenciar a atmosfera de aridez desse mundo, dessa Terra de 2049 As ruas da Los Angeles desse Blade Runner, à exemplo do filme anterior, são uma babel tecnológica, com várias propagandas e letreiros que misturam russo, japonês, hindi e coreano E ao invés de passar uma sensação de comunhão, esse cenário só parece tornar essa realidade mais caótica Esse é um filme que traz uma sensação de solidão sempre muito presente Ryan Goslin, interpreta o K, um personagem que tá o tempo todo tendo que processar diferentes tipos de emoções e de informações, ao mesmo tempo em que ele precisa manter o controle enquanto o mundo ao redor dele começa a desabar

E esse não é um mundo de que ele gosta, mas é o único que ele conhece E ele tá muito bem mostrando a forma como o personagem vai silenciosamente aguentando no osso essa realidade, porque ele já aceitou há muito tempo a inevitabilidade o destino dele Esse filme tem atuações muito sólidas, e eu queria começar destacando o Dave Bautista, sim, o Drax de Guardiões da Galáxia Cara, se você acha que ele só serve pra ser um brutamontes que distribui porrada pelo espaço sideral, você vai mudar de ideia No pouco tempo em que ele aparece nesse filme, ele é simplesmente perfeito

Uma atuação extremamente precisa, sem nenhuma sombra de exagero Cada gesto dele, cada frase é tudo direto na mosca Eu fiquei orgulhoso Esse filme tem várias atuações que são papéis pequenos, mas que são como bombons sortidos, sabe? Um prazer breve, mas marcante Joi, da Ana de Armas é uma grata surpresa

Em um primeiro momento, ela parece ser mais um clichê de ficção científica, você pensa: "Ah, cara, isso de novo?" Mas aos poucos ela vai tomando conta das cenas em que ela aparece e quando você se dá conta, você está completamente entregue, apaixonado por ela Imagina, em um filme com o Harrison Ford revivendo o Rick Deckard, a personagem que eu mais gostei foi ela Mais um ponto pro Dennis Villeneuve Por falar no Deckard, o Harrison Ford vale cada segundo em que ele aparece Esse Deckard mais velho é uma mistura de amargura e resignação, um retrato da forma como esse mundo distópico arrebenta com as pessoas sem absolutamente nenhuma compaixão

É interessante, e isso é provavelmente uma coisa proposital, mas as atuações mais apaixonadas, mais cheias de humanidade são justamente dos personagens que não são humanos Quase como se a humanidade fosse um sistema operacional desatualizado, limitado, que só vai até um certo limite Obviamente, isso é só umas das várias leituras desse filme Pontos negativos? Sim Esse é um filme de quase três horas de duração, extremamente lento

Eu acredito que faltou um pouco de equilíbrio aqui, que se esse filme tivesse meia hora a menos, ele seria perfeito Essa duração muito longa prejudica o ritmo dele Como ele é muito longo e muito lento, por mais que você esteja investido nos personagens, admirado com o visual e interessado no desenrolar da história, esse é um filme que acaba se tornando um pouco cansativo E eu volto a dizer, eu nunca tive problema com filmes lentos, eu adorei o A Chegada Alguns personagens tinham muito potencial que poderia ter sido desenvolvido, já que esse é um filme de quase três horas

A saber o Niander Wallace, do Jared Leto e a senhorita Luv, da Sylvia Hoeks No caso dela, principalmente, você percebe que tinha muito mais ali pra você ver, mas essas motivações que estão ali, à flor da pele, pulsando não são mostradas em momento nenhum Enfim, cara, esse é um filme pra se ver mais de uma vez, porque ele tem vários subtextos inseridos na narrativa, várias camadas de existencialismo, metafísica, filosofia, ética, pós-humanismo Não é o tipo de obra que você consegue digerir tão facilmente É um filme em que as pausas comunicam muito, as imagens comunicam muito

É um filme cheio de simbolismos, como por exemplo alguns padrões de água e luz, que aparecem bastante, e que são uma referência à própria origem da vida, no caso do filme, o local específico de origem da vida E esses simbolismos são muito sutis… assim como o resto do filme Blade Runner 2049 não é um filme que você deixa no cinema Ele vai pra casa com você, ele fica rodando em background na sua cabeça e quando você menos espera você se pega pensando sobre os possíveis desdobramentos que a revelação desse grande segredo teria pra humanidade De que, em vista do que foi apresentado como a humanidade, esse segredo seria realmente a gota d'água pro caos

E é isso que um bom filme faz Então, e vou dar pra Blade Runner 2049… nove jujubas Mas lembre-se, esse não é um filme de ação É um filme de contemplação, um filme mais sobre filosofia do que sobre tecnologia Não espera nada parecido com Star Wars, Aliens, Vingadores, nada disso

É basicamente um filme autoral de um diretor com uma forma muito específica, muito única de contar uma história No final das contas, Blade Runner 2049 é pura e simplesmente ficção científica à moda antiga E por hoje era isso, eu espero que você tenha gostado do vídeo Não esquece de compartilhar esse vídeo também pra me ajudar a divulgar o canal e assim conseguir manter ele no ar Dá o seu like, se inscreve aqui e eu queria convidar você também pra se inscrever lá no meu Instagram

Tô sempre colocando bastante coisa por lá E se você quiser conhecer um pouco mais deste que vos fala, você é meu convidado, certo? Uma vez mais, muito obrigado! E até a próxima!