2001 – Uma Odisséia no Espaço | RESENHA

Se um dia a Capela Sistina de Michelangelo se transformasse em um amontoado de frases e parágrafos, ela poderia muito bem se parecer com isso 2001, de Arthur C

Clarke E eu vou explicar pra você porque agora mesmo, então se liga aí! Oi, eu sou Gustavo Cunha e eu me lembro exatamente do momento em que eu terminei de ler 2001, Uma Odisséia no Espaço do Arthur C Clarke Eu devo ter ficado uma meia hora olhando pra esse livro, tentando processar tudo que eu tinha acabado de ler Cara, esse livro é um clássico atemporal

Não é só uma obra de arte em forma de texto, é muito mais do que isso É o caso raro de uma obra literária que, a exemplo de Duna do Frank Herbert, consegue ser mais relevante agora em 2017 do que na época em que ela foi escrita, no final dos anos 60 Essa é uma obra de arte concebida sob encomenda, com o objetivo de dar origem a outra obra de arte, o filme do Stanley Kubrick de 1968, que de certa forma acabou injustamente, na minha opinião, eclipsando esse texto do Arthur C Clarke Essa edição em especial, da Editora Aleph, é um presente pra qualquer apaixonado por ficção científica ou amante de literatura em geral por vários motivos O primeiro deles é que nessa edição, a gente tem um texto do próprio Arthur C

Clarke falando sobre como foi a colaboração dele com Stanley Kubrick Acontece que o Kubrick estava obcecado com a iminente ida do homem à Lua em 1969 e queria muito lançar a sua própria versão da exploração espacial antes da NASA Afinal de contas, era o Kubrick, né? E ele queria que o Arthur C Clarke fizesse o roteiro Só que o Arthur C

Clarke não conseguia pensar tão resumidamente, ser tão econômico como é necessário ser pra se fazer um roteiro O que acontece, muito rapidamente pra você entender Um roteiro não pode ser tão descritivo quanto uma narrativa, um livro Ele precisa ser muito sucinto, muito direto, porque se ele descrever demais as coisas, ele tira a liberdade do diretor de criar, de dar a versão dele Se você der o mesmo roteiro pra cinco diretores diferentes, eles vão filmar de cinco formas diferentes

Por exemplo, você coloca no roteiro: Fulano entrou na sala Um diretor vai começar dando um close na maçaneta e uma mão abrindo a porta, aí corta para o lado de dentro da sala, uma câmera oposta e a gente vê a pessoa entrando Outro diretor pode filmar direto do momento em que a pessoa já está entrando na sala, de um ângulo mais aberto, mostrando tudo em um take só e assim por diante Então, o roteiro tem que ser sempre uma coisa muito direta

É por isso que muita gente acaba discutindo se um filme é do roteirista ou do diretor… Mas enfim, isso é uma discussão pra outro vídeo Sendo assim, pra fazer o roteiro, escrever resumidamente, o Arthur C Clarke precisava primeiro criar a história da forma como ele sabia, escrevendo um livro e depois adaptando ele Então, o roteiro e o livro foram sendo escritos ao mesmo tempo O segundo motivo é porque, por mais genial que o filme de 68 tenha sido, na minha humilde opinião, ele não tem como competir com texto do Arthur C

Clarke O Arthur C Clarke era formado em matemática e em física e tinha uma ligação muito estreita com o pessoal da Nasa por causa das publicações científicas dele E justamente por causa disso, as informações no livro são sempre muito pertinentes Só pra você ter uma idéia, OFF: as duas sondas Voyager, que partiram da Terra em 1977, usaram um recurso chamado assistência gravitacional, que é aproveitar a gravidade de um planeta pra dar mais velocidade pra nave, como se fosse um estilingue

Assim, elas ficavam mais rápidas a cada planeta pelo qual elas passavam Pois é, essa assistência gravitacional já tinha sido usada aqui nove anos antes Ao mesmo tempo, o texto dele nunca é enfadonho, técnico Ele cria um texto tão envolvente, tão cheio de pequenas sutilezas de ordem existencial e filosófica que você já é fisgado nos primeiros parágrafos Sobre a história, propriamente dita, durante uma missão de mapeamento da lua, uma equipe de astronautas descobre um monolito, uma forma geométrica esculpida em um material desconhecido, que ninguém sabe como foi parar lá

A partir desse mistério, a ação vai se desenrolando e a nave Discovery é enviada até a órbita de Júpiter por causa dos desdobramentos dessa descoberta A bordo da nave, dois tripulantes acordados, três em hibernação e uma inteligência artificial, HAL 9000 HAL 9000 é provavelmente a inteligência artificial mais conhecida da história do cinema Uma inteligência artificial, com poder gigantesco de processamento e uma lógica vulcana inabalável Mas sem as salvaguardas mentais que qualquer ser humano comum leva dentro de si, graças a milhões de anos de evolução, de tentativa e erro da natureza

E que salvaguardas são essas? O entendimento sobre questões como compaixão, empatia, e até mesmo o remorso Como é que uma inteligência artificial processa uma coisa como remorso? Como é que ela sabe que aquilo é remorso? Você tá entendendo onde eu quero chegar, né? Ou seja, o Arthur C Clarke teorizava em 1968 sobre questões com as quais os cientistas de hoje estão se deparando nesse exato momento lá nos laboratórios da Google Não se esqueça, né que o Ray Kurzweil, um dos maiores experts em inteligência artificial do mundo, já disse que por volta de 2029 vai ser simplesmente impossível distinguir uma inteligência artificial da inteligência humana e que por volta de 2045, uma única inteligência artificial pode ser mais inteligente do que toda a raça humana reunida… E o Stephen Hawking, aquele, já disse mais de uma vez que o pleno desenvolvimento das inteligências artificiais pode, necessariamente, acarretar no fim da raça humana Mas quem é Stephen Hawking, né? Além de ser provavelmente o ser humano mais inteligente que já pisou na Terra

Bom, esse livro é dividido em três partes A primeira delas se passa há milhares de anos, no tempo em que surgiram os primeiros homo sapiens E, cara, essa primeira parte é sensacional Eu tenho certeza de que você nunca parou pra pensar na forma como esses primeiros homens viviam da forma como o Arthur C Clarke pensou

Conceitos que eu você achamos óbvios hoje em dia, simplesmente não existiam para aquelas pessoas E essa primeira parte da narrativa já brinda o leitor com uma descrição muito bem feita do assombro da descoberta pra uma mente ainda em fase de transição Depois disso, nós pulamos para o futuro imaginado pelo Arthur C Clarke, a visão dele do que seria o futuro de 1968, né? Quando o monolito é encontrado e tudo o que isso acarreta na vida da comunidade científica e dos governos da Terra e as decisões que precisam ser tomadas em função disso Que tipo de questão a descoberta de uma coisa assim tão próxima de nós poderia suscitar

E depois, a missão da Discovery indo em direção a Júpiter Quando nós passamos a acompanhar esses dois astronautas e o HAL9000 E é nessa parte do livro que o autor usa a história e esse personagem, a inteligência artificial, pra especular mais profundamente sobre filosofia, ética e até mesmo transumanismo, aquela linha de pensamento que fala sobre o aprimoramento do ser humano por meio da tecnologia e da biotecnologia… Na parte final desse livro, quando ele se aproxima de uma resolução, o Arthur C Clarke simplesmente joga o leitor numa montanha-russa Sério cara, o final desse livro é simplesmente vertiginoso

E é genial É uma das coisas mais criativas que eu já li na minha vida É o tipo de livro que você termina de ler e tem que passar um tempo olhando pro nada pra tentar assimilar tudo o que você acabou de ler Se você achou interessante o final do filme do Kubrick, eu vou dizer uma coisa pra você Você não viu nada

A forma de escrever e as imagens que o Arthur C Clarke coloca na sua cabeça vão deixar você de boca aberta Bom, eu sei que eu fiquei E duvido que você consiga largar esse livro antes do ponto final quando chegar na última parte… Eu aposto com você que você não vai conseguir Além do prefácio do Arthur C

Clarke, essa edição da Aleph traz também os dois contos que deram origem a essa história Um deles se chama A Sentinela e o outro se chama Encontro no Alvorecer Eu não vou falar mais nada sobre eles pra não estragar a surpresa, mas eu posso garantir pra você que eles são tão legais quanto 2001 Se você ainda não conhece o trabalho do Arthur C Clarke, eu tenho certeza de que você vai querer ler outras coisas dele

E outra coisa muito legal é que a arte desse livro é simplesmente demais, olha só Você tira o livro aqui dessa capa, ou luva, eu não sei como se chama isso… Sobrecapa… E o livro é todo preto Todo ele Assim como o monolito Você quer saber como se parecesse o monolito de que a história fala? Pois bem, ele é exatamente assim

Tá, e pra dar um último gostinho pra você, eu vou ler o primeiro parágrafo do livro Uma última curiosidade No Natal de 1968, o ano de lançamento do filme 2001, os astronautas da Apollo 8 foram os primeiros seres humanos a verem o lado escuro da Lua Eles contaram quando voltaram que, por muito pouco, eles não mandaram uma mensagem pra Cabo Canaveral dizendo que eles estavam vendo um monolito preto na superfície da Lua Cara, se fosse eu, eu podia até descer e ir direto pra corte marcial, mas eu mandava essa mensagem

Antes de terminar, eu queria dizer que esse vídeo aqui teve o apoio da Chico Rei, que, além de me ajudar a manter o canal no ar, me mandou essa camiseta sensacional do C-3PO OFF: Se você quiser uma camiseta igual a essa, é só acessar o site deles Eu vou deixar o link para o site da Chico Rei aqui embaixo, na descrição do vídeo, certo? Ah, e se você colocar o código jujuba atômica na hora de pagar, você ganha quinze por cento de desconto

Que beleza, hein? Ah, mas é só até o fim desse mês de Junho, então não dá pra se amarrar… E por hoje era isso, eu espero que você tenha gostado do vídeo! Se você gostou, dá um likezinho aqui embaixo, se inscreve no canal e ativa as notificações Ah, e eu gostaria de convidar você também pra se inscrever lá no meu instagram Tô sempre colocando fotos por lá Se você quiser conhecer um pouco mais sobre a minha pessoa, tá convidado! Uma vez mais muito obrigado! E até a próxima!